Apesar de comporem a maioria da população brasileira, as mulheres ainda têm uma presença tímida no alto escalão da política, e não é só em Brasília. O número de prefeitas e vereadoras pelo país é pequeno – e fica ainda menor se considerarmos as mulheres negras. Lideranças como Marina Silva, Benedita da Silva e Marielle Franco são a exceção e ilustram perfeitamente a desigualdade de raça e gênero no Brasil.
Uma pesquisa para a campanha Quero Me Ver No Poder, da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, cruzou dados dos registros de candidaturas no TSE com a liberação das parcelas do auxílio-emergencial. Um a cada cinco candidatos recebeu ao menos uma parcela do apoio. Chama atenção o fato de que as candidaturas de mulheres negras são as que mais solicitaram os recursos do governo federal.
Em português claro, além de lutarem contra todas as adversidades de raça e gênero, as candidatas ainda são as mais expostas a adversidades financeiras enquanto lutam por um espaço na política.
“Considerando todos os cargos, 29,86% das candidatas negras que estão concorrendo às eleições de 2020 tiveram que acessar o auxílio emergencial durante a pandemia – e é importante lembrar que a imensa maioria das candidaturas de mulheres negras (97,29%) se concentra nas câmaras municipais”, argumenta a coordenadora do estudo, a antropóloga Carmela Zigoni, do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos).
A pesquisadora observa que as mulheres negras que concorrem às eleições muitas vezes não dispõem de tempo na TV, não contam com o apoio do partido, são obrigadas a dividir a rotina entre a campanha, os afazeres domésticos e uma fonte de renda – isso quando estão empregadas.
“É uma candidata em situação de vulnerabilidade social e econômica. Muito diferente das candidaturas de homens, brancos, com patrimônio alto, que tem por tradição ocupar os espaços de poder e pouco ou nenhuma contribuição na economia do cuidado”, diz.